domingo, 19 de outubro de 2014

Porque sou #Aécio45

Porque sou #Aécio45

Há algumas semanas venho defendendo nos meus perfis meu voto em Aécio Neves. Sempre questionado sobre o porquê e como foi o governo dele em Minas (sou mineiro) decidi deixar aqui minha opinião.

Peço porém, encarecidamente, que não usem os espaços de comentários para ataques ou tentar me fazer mudar de ideia. Por mais que você possa estar certo, use seu espaço para colocar seu ponto de vista, por favor.

Primeiramente, gostaria de informar que nunca votei no Aécio. Se não me falha a memória, tive oportunidades nas duas vezes que ele foi eleito governador e quando foi eleito senador por Minas. Na verdade, sempre fui eleitor do PT, embalado pelo sonho do socialismo, da igualdade.... o sonho que sempre embala boa parte da juventude, em especial aqueles que não nasceram em berço de ouro.

Dito isso, posso com convicção crer que Aécio e o PSDB não são nem de longe a solução do Brasil.  Não tenho mais essa ilusão na vida. O PSDB e seu presidente, FHC, fizeram grandes mudanças para melhor no país. Mas os militares também. Sarney também. Até Collor e Itamar fizeram. Até um relógio parado acerta a hora duas vezes ao dia....

Antes de continuar, faço aqui um parêntese de que vou adentrar em uma área que não é a minha. Não sou economista, nem especialista, todavia leio um pouco sobre o assunto. Mas como o nome do blog é “Palpite Novo”, vou me dar esse direito de palpitar. E minha visão da história recente da economia do país é fundamental para minha escolha atual.

Antes do governo FHC, o Brasil vivia uma inflação desenfreada (mais de 900% ao ano), desemprego, um punhado de planos econômicos mal sucedidos, problemas sociais. O foco do governo então era o combate à temida inflação. Para tal, entre outros recursos, FHC lançou mão da paridade do Real com o dólar. Só que até quem não tem formação na área econômica, sabe que o que governa qualquer mercado é a oferta e procura. Não é com uma canetada que se define quanto vale um dólar. Você pode até decretar, mas só vai fazer crescer o “mercado paralelo”. Então, como FHC conseguiu manter 4 anos a tal paridade? Simples! Privatizou as estatais!

Mas como a privatização das estatais serviu para manter a paridade? Explico: Como as empresas estrangeiras vieram comprar nossas empresas “brazucas”, estas empresas precisavam de reais. Então, elas traziam dólares do exterior, vendiam esses dólares aqui para comprar os reais para comprar nossas estatais.

Pronto! Você alimentou o mercado com dólares mantendo a oferta - procura em um nível que se poderia ter uma real paridade 1 para 1. Além disso, outro recurso utilizado foram nossas “reservas cambiais”, que foram usadas para inundar o mercado com dólares via Banco Central.

Essa tática deveria ter sido usada por um tempo, pois não é sustentável, até que a estabilização econômica fosse alcançada. Mas ela teve um outro efeito. Com a relação dólar – real 1 para 1, o brasileiro (em especial a classe média) passou a desfrutar de algo até então distante! As viagens ao exterior e os produtos importados a preços acessíveis! Não precisamos explicar muito o que isso causou às nossas empresas nacionais. Tragédia!

As empresas nacionais já sofriam com a abertura de mercado feita por Collor (fez o certo de modo errado - abriu o mercado nacional à importação depois de décadas da Reserva de Mercado imposta pelos militares, mas sem critérios coerentes) pois não podiam competir de igual para igual com as estrangeiras (ou alguém acha que, por melhor que fosse, a Gradiente tinha como competir com a Sony ou a VW nacional e seu Gol quadrado contra a VW alemã e seu Golfe?). Basta lembrar as nossas ruas repletas de Golfs, Fiat Tipo, etc.

E o que o governo FHC fez? Deixou o dólar flutuar livremente assim que economia estabilizou? Não! Manteve a paridade 1 para 1 até ser reeleito! No dia seguinte do resultado anunciado da eleição de 1998, o dólar subiu imediatamente para R$1,60. Depois disparou.

 Ou seja, FHC utilizou-se de medidas “populares” para se manter na presidência a um custo elevado para o país!

O segundo governo FHC foi uma lástima. Desemprego  (muitas empresas nacionais tinham quebrado, lembram?), o dinheiro estrangeiro tinha ido embora (a privatizações enfrentavam reprovação popular e as boas empresas em sua maioria já haviam sido vendidas), os salários não cresciam (os dos servidores públicos e os da iniciativa privada, porque havia desemprego) e o Brasil precisava pedir empréstimos. Mas a inflação seguia sobre controle, mesmo com algumas variações (até maiores que hoje). Claro que não sem aumentar as taxas de juros até a estratosfera para atrair capital externo.... A economia dava sinais lentos de recuperação no final do governo FHC, mas baseada no juros altos prejudicava boa parte da população.

Então, era hora de mais uma eleição. Lula finalmente parecia que ia emplacar. E foi eleito! Claro que a despeito do desejo da maioria da população, o mercado financeiro achou péssimo. O investimento externo sumiu e o dólar chegou a custar mais de R$4,00 e a taxa de juros bateu em 45%!

Além disso, havia o medo de que o governo PT implantasse medidas econômicas controversas que destruíssem a estabilidade, conquistada nos últimos 8 anos. Talvez por isso, o PT tenha divulgado que cogitava manter o Presidente o BC do FHC, Armínio Fraga, à frente do BC ou como consultor:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u35701.shtml

Isso não ocorreu, mas Henrique Meirelles, então eleito Deputado Federal pelo PSDB-DF em 2002, foi o escolhido, acalmando o mercado.

Lula, por bem, fez o certo. Manteve as medidas econômicas de FHC e tratou de cuidar do lado social. Reuniu um punhado de programas sociais pequenos e criou o Bolsa Família. A ideia era tirar da pobreza milhões de brasileiros, o que de fato aconteceu.

Do ponto de vista econômico, o Bolsa Família teve outro efeito. De repente, o Brasil passou a ter um mercado consumidor que até então não existia! Milhões começaram a fazer a roda da economia girar. Isso fez a indústria nacional se reerguer e junto com ela o investimento estrangeiro, ávido por novos consumidores.

Com a entrada do capital estrangeiro como investimento e não só com “especulativo da bolsa”, a taxa de juros pôde ser reduzida e com isso, facilitar o crédito. A economia e o emprego dispararam com a política da distribuição direta de renda e crédito fácil e acessível! Idem os salários, já que a mão de obra qualificada começou a ficar escassa...

Então veio a crise de 2008. E o Brasil passou relativamente bem por ela! Com o mercado interno aquecido e sem os bancos nacionais adotarem políticas de alavancagem absurda como os de outros países, vivemos pouco mais de uma “marola” como previa Lula.

Só que nada é tão simples como sonham nossos governantes. Essa política de juros baixo + distribuição direta de renda + crediário não é sustentável. O primeiro pilar a ceder foi o crédito. O brasileiro se endividou a um ponto que a inadimplência disparou, fazendo aquele crédito fácil ficar cada vez mais difícil. Além do mais, a inflação começou a querer subir, forçando o governo subir também as taxas de juros (o que dificulta ainda mais o crédito). Por fim, o governo teve que segurar  artificialmente o preço de alguns itens, como gasolina e energia. Em parte para segurar a inflação, em parte para não fazer os mais pobres terem uma queda ainda maior no “novo padrão de vida”.

O que vivemos agora é um período em que o fantasma do desemprego assombra. Criamos o mercado mas ele não é sustentável, uma vez que não se cria riquezas (os novos consumidores não geram, em geral, mais empregos – 50mi se beneficiam do Bolsa Família e só 1,7mi deixaram o programa – e não se sabem quantos desses retornam após terem se desligado)

Então, o governo Dilma vive hoje três grandes problemas: (zero crescimento econômico – leia-se desemprego a médio prazo), inflação e juros alto. Uma situação complicada, já que de modo geral não é normal haver esses três componentes juntos pois são, por natureza, antagônicos.

E aonde entra Aécio Neves hoje?

Bom, primeiro, tenho mais absoluta certeza de que quem assumir em 2015 não vai abolir o Bolsa Família, já que além de ser um programa social importante ele é fundamental para a economia como explicitei acima. O Bolsa Família precisa sim urgentemente ser readequado, com uma política que não o torne “vitalício”  e incentive os beneficiários a se qualificarem e conseguirem empregos (gerar riquezas). A proposta de manter o Bolsa Família por 6 meses após o beneficiário conseguir emprego fixo é interessante, pois muitos se recusam a “ter a carteira assinada” para manter o Bolsa. Espero que os critérios e fiscalização para um cidadão se manter no programa também sejam revistos.

Segundo, pois é salutar à democracia que haja, se não renovação, pelo menos alternância no governo de um país. É assim nos EUA com os republicanos e democratas, no Reino Unido com Partido Conservador e Trabalhista e França com o Partido Socialista e o UMP. O que faz um governo avançar é a certeza de que se sua aprovação for baixa, outro grupo político tomará o poder em 4 anos. Sim! 4 anos! Eleição não é casamento nem time de futebol. Podemos trocar Aécio em 2018 caso os rumos tomados pela sua política não estejam de acordo com nossos anseios.

Terceiro, pois fará bem também ao PT. Internamente, outros grupos dentro do Partido dos Trabalhadores ganharão força para reivindicar mudanças (para melhor, espero, no partido). Fará bem ao PT perder o poder em uma reeleição. Poderá se reinventar. E, quem sabe, trazer de volta bons dissidentes que abandonaram o partido por não concordar com a política atual, como Cristovam Buarque, Eduardo Jorge e Marina Silva.

Quarto, pelo seu plano de governo. Alguns pontos interessantes, como a proposta de redução de impostos. O governo atual acenou timidamente com esse tema, reduzindo IPI aqui ou ali para incentivar o consumo em algumas áreas (como automóveis por exemplo). No plano de governo tucano há uma menção, apesar de genérica e pouco clara, de se criar a reforma tributária. Acredito que esse é o caminho que o Brasil precisa avançar muito. Perdemos bilhões no exterior por mês de compras de turistas, ávidos por pagar um valor mais baixo em produtos (muitas vezes com melhor qualidade). A redução dos impostos incentivará o consumo interno novamente, reaquecendo a economia e o mercado de empregos. Além de aumentar a competitividade de nossos produtos para exportação (apesar que muitos já gozam de impostos “normais” para essa finalidade). Além disso, o incentivo à Infraestrutura do Brasil deve ser pesado, pois o que encarece também nossos produtos é a dificuldade em escoar a produção e a incerteza com nosso fornecimento de energia elétrica cujo valor no mercado livre subiu de pouco mais de R$150,00 para quase R$ 900,00 no governo Dilma. Culpa da escassez de energia.

Sexto, e não menos importante, pela educação. Esse governo falhou, apesar dos programas de incentivo à educação, em promover a melhora do ensino no Brasil. Claro que o ensino fundamental e médio é de responsabilidade dos governos municipais e estaduais, mas o governo federal, dono da maior parte do bolo da arrecadação é o único que pode propor políticas nacionais de educação. E o governo atual falhou em melhorar o ensino no Brasil:

http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2014/09/1511466-ensino-medio-piora-apesar-de-promessas-de-governo.shtml=

Claro que muito se avançou em PROUNI e PRONATEC, mas o Brasil crescerá mesmo quando formarmos a primeira geração que teve ensino fundamental, médio e superior de qualidade. Enquanto ficarmos achando que “cotas” para estudantes de escolas públicas é a solução para o ensino do país ficaremos patinando. Como ex-professor universitário de universidade particular, descobri que não basta abrir centenas de milhares de vagas em curso superiores sem uma boa base. Um aluno de engenharia que chega ao último período do curso sem saber que “P=V.I” não está ajudando em nada a sociedade. Nem a si mesmo. Está ganhando um pedaço de papel escrito “engenheiro”.

Concluindo, volto a dizer que não acredito que Aécio Neves seja a solução para o Brasil. Mas acredito que seja a melhor escolha. Até o candidato que eu queria na presidência acha isso. Não creio estar tão errado assim.

http://acontecebrasilia.com.br/CulturaEmBrasilia/cristovam-buarque-vai-de-aecio-neves/